segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Roubando o show


Two Friends That I'm Fan
Upload feito originalmente por Guzma
Uma movia-se com graça, como fosse familiar a todos aqueles movimentos. Como algo que já fosse nativo a si próprio. A outra tinha em seus movimentos algo de disciplina. Quase mecânico. Fazia todos eles como se seguisse um roteiro que nunca mudava. Era assim todo ensaio. Era assim em todo espetáculo. E era isso que fazia cada show especial. Júlia e Beatriz, amigas desde quando ainda tinham cinco anos de idade, trabalhavam como duas peças de uma máquina extraordinária.
Mas naquele dia Beatriz queria algo mais. Não queria dividir a atenção do público nem os aplausos com ninguém. Beatriz queria ser única naquele espetáculo. Roubar o show para si. Só que quando se rouba algo, também perdemos algo junto, se não me falha a memória cansada. Naquele dia não queria perder tempo. Faria já na matinê.
A casa estava cheia, como sempre. A multidão amontoada entre as cadeiras. Pontos escuros como um grupo de corvos negros grasnindo. Elas entram no palco para executarem seu número. Júlia, apesar de não ter seus movimentos feitos de maneira tão metódica, sabia sempre onde e como se posicionar, pois Beatriz estaria lá, certa como a engrenagem de um relógio que nunca para. Mas naquela manhã seria diferente. Esqueçam os roteiros, as seqüências, os ensaios e toda a engrenagem que nunca falhava em um único movimento. Aquela manhã seria eternizada na mente daqueles espectadores.
Júlia foi a primeira a subir nas barras. Girava e girava usando transformação da energia cinética pra tomar impulso voando para a próxima barra.
Chegava a vez de Beatriz agarrar-se a barra agora. Girava e girava do mesmo modo que seus pensamentos giravam em espiral. O que estava fazendo, ela pensava. Paradas, novos giros e inversões, Júlia percebia que algo estava errado. Ela tinha que se esforçar cada vez mais para acompanhar os movimentos imprecisos de Beatriz.
Foi quando no último movimento, no último salto, Beatriz não estava onde deveria estar. Beatriz improvisara um movimento que a pôs em um lugar faux. Júlia saltou para o nada. E foi nada que a segurou. Júlia caiu no chão, quebrando seu delicado pescoço. Beatriz conseguiu o que queria. Roubou a cena, o show, o espetáculo e a vida de sua grande amiga.
Assim é uma amizade. Você pula, rodopia, salta, mas sabe que vai ter alguém lá que vai te segurar pra complementar teu movimento. Que não vai te deixar cair. Você confia. Júlia confiava em Beatriz. Não apenas pelo espetáculo, mas pela amizade construída durante tantos anos. Beatriz agora provava do seu próprio torpor, pensando com amargura naquele corpo miserável que jazia desalinhado no chão. Desejou que a alma imortal de sua amiga já estivesse bem longe, abrigada sobre as grandes asas de Deus. Beatriz tinha agora todas as atenções voltadas para si, assim como desejou.

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One moved with grace, as she was familiar to all those movements. As something that was already native to herself. The other had something of discipline on her movements. Almost mechanical. She made them all as if following a script that never changed. So were like this all the rehearsals. And as it was also throughout the show. And that was what made each show special. Julia and Beatrice were friends since they had five years old and worked together as two parts of an extraordinary machine.
But that day Beatrice wished something more. She didn´t want to share the attention of neither the public nor the applauses with nobody. Beatrice wanted to be unique on that show that day. Stealing the show to herself. But when you steal something, you also lose something together, if my tired mind isn't cheating me. In that day Beatrice didn't want to lose time. She would make it already on the matinee.
The place was crowed, as always. People squeezing between chairs. Dark spots as a group of black crows, caw. They come into the stage to perform the show. Julia, instead of doesn't move so methodically, always knew how and where to be placed, because Beatrice would be there, right as the engine of a clock that never stops. That morning would be immortalized in the minds of the spectators.
Julia was first to go up on the bars. Spinning and spinning turning the kinetic energy into an impulse, flying to the next bar. Now was the time to Beatrice gone up to the bars now. Spinning and spinning as her thoughts were spinning on a spiral. What I'm doing, she thought. Stops, new spinning and inversions, and Julia noticed something wrong. She was about to do more and more efforts to follow the inaccurate movements of Beatrice.
And so on the last of the movements, on the last jump, Beatrice wasn't where she was supposed to be. Beatrice improvised a movement which she was placed falsely. And Julia jumped to the empty. And the empty couldn't hold her. Julia felt to the ground broking her delicate neck. And Beatrice got what she wanted. Stole the scene, the show, the public attention and her friend's life.
And so it is a friendship. You jump, spin, fly, but you know that always will be someone there to hold you and complete your movement. Someone that will never let you follow down. That you trust. Julia trusted Beatrice. Not even for the show, but because their friendship built among several years. Beatrice now was tasting her own torpor, thinking bitterly about that miserable body lying disheveled on the floor. She wished that the immortal soul of her friend was already far away, housed on the main wings of God. Beatrice had now all attention focused on herself, as she desired.

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