terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Reflexos

Permaneço parado diante do espelho tentando entender aquele que está a minha frente. Tentando perceber um gesto, um olhar, um movimento que me ajude a decifrá-lo. De onde vem toda essa angústia? De onde vem essa expressão fria e vazia? Em que ponto foi perdido aquele fio de vida?
Quanto mais o observo mais distante vou me distanciando do mundo. Ele me puxa para dentro do espelho, e junto o pouco de mim que ainda convive socialmente. Não sei se quero lutar contra isso. Se quero entendê-lo ou apenas esquecê-lo. Daquele lado tudo é tão quieto e triste.
Seu olhar penetra em minha alma. Por um instante não sei mais de que lado estou deste espelho. Sei que não poderei voltar depois que entrar. Mas... por que voltaria?



I stay in front of this mirror, trying to understand that one in front of me. Trying to note a gesture, a look, a movement that helps me to decode him. From where comes so much anguish? From where comes this expression so cold and empty? Where the line of life did was lost?
How much I observe more distant I going being from the world. He pulls me inside the mirror, and together goes the few of me that still lives socially. I don't know if I want to fight it. If I want to understand him or just forget. That side all seems so quiet and sad.
He looks goes deep into my soul. For a moment I don't know in which side I'm from this mirror. I know that I won't come back after I come in. But... Why would I come back?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Endechas a Bárbara Escrava, por Guzma...

Olho-te caminhar ao lado de tua senhora. Sempre servindo sem conhecer outros desejos ou vontades. Separada de sua família. Separada dos seus amigos. Serves tua senhora com tanta presteza que parece que fora criada para isso. Nascida e feita para servir. Assim como serves meu olhar.
Luiz passava a maior parte do seu dia, sentado a sombra do terraço de sua casa. As papoulas preenchiam os espaços vazios entre as madeiras do teto do sobrado tornado aquela sombra ainda mais agradável. A frente do terraço ele podia observar o movimento das pessoas indo e vindo, pois era uma das principais ruas da cidade.
Era lá que ele todos os dias esperava passar a senhorinha Letícia. Todos os dias a senhorinha Letícia vinha a cidade. Algumas vezes para realmente fazer suas compras, mas geralmente apenas para passear já que a fazenda do seu pai não oferecia muito entrertendimento. Mas Luiz não ficava esperando para ver a senhorinha. Quem realmente o interessava era a escrava que sempre acompanhava sua senhora.
Bárbara era um negra que tinha uma beleza invejada por muitas senhoras daquela época. Além disso era cobiçada por muitos senhores, mas querida apenas por um, ele sabia. Sua pele escura refletia o brilho do sol. Tinha longos cabelos cacheados. Olhos negros como a noite. Uma noite calma e serena.

Anjo de escura pele.
De mãos delicadas
E olhos da noite.
Agora desejada em segredo.
Cobiçada por aquele
A quem devias servir.
Desejada por quem
Deseja servir-te.



I watch you walking besides your lady. Always serving without know others desires or wishes. Apart of your family. Apart of your friends. You serve your lady so readiness that just seems that you were made for this. Born and made to serve. As you serve my eyes.
Luiz used to pass most of the day sat at the terrace of his house. The poppies fulfill the empty spaces of the wood at the roof of the terrace giving a pleasant shadow. In front of the terrace he could watch the people passing by, coming and going, because that was one of the main streets of the city.
There he waited everyday for the little lady Leticia. Every day she came to the city. Sometimes to do some shopping, but normally just to take a walk, because at her father's farm there was not much to see. But Luiz isn't there to see Miss Leticia. Who really matters for him was the black slave woman, which was always making company to the little lady.
Barbara was a black woman with a beauty to be envy by a several ladies of that time. Besides that, she was also desired by many lords, but beloved just by one, he knew that. Her dark black skin reflected the sun light. She had a long hair arranged in curls. Dark eyes like the night. A calm and serene night.

Angel of dark skin.
Delicate hands
And night eyes.
Now beloved in secret.
Desired by that one
Who you should serve.
Desired by whom
Desires to serve you.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Gelo fino...


Frozen lake
Upload feito originalmente por LisaG in Tel Aviv
Caminho sobre essa fina camada de gelo,
Tentando fugir de um mundo que não quero viver...
Um mundo tão frio e sem vida
Quanto o fino gelo sob meus pés.

Caminho sobre essa fina camada de gelo,
Mas não sei por quanto tempo ela irá me suportar...
Um frio escuro e úmido aguarda sob mim,
Envolver-me em seu abraço eterno.

Caminho sem segurança onde pisar.
Sentindo o gelo quebrar-se.
Tudo o que me sustenta prestes a ruir.
Então nada mais vai me restar...
Nada além do frio... E do gelo.

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I walk above this thin ice surface,
Trying to escape from a world
That I don't want to live in...
A so cold and lifeless world
As thin as the ice under my feet.

I walk above this thin ice surface,
But I don't know for how long it will sustain me...
A dark and damp cold waits under me,
To involves me into its eternal hug.

I walk unsure where to step over.
Feeling the ice breaking.
Everything which sustains me just to ruin.
So there will nothing more left to me...
Nothing but the cold... And the ice.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vida e Morte de um Caixeiro Viajante

Esses dias lembrei de uma peça que assisti já faz um bom tempo, em SP. A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller. Na peça a trama se desenrola sobre o personagem Willy Loman, que vive um drama social e um drama familiar ao mesmo tempo, pressionando-o até o mesmo cometer suicídio.
Willy é um aspirante a rico, que embalado pela rapidez com que as pessoas enriqueciam, acredita que também terá o mesmo sucesso e que a fama e o dinheiro chegariam logo. Porém as oscilações do mercado acabam com os sonhos de Willy, levando-o a falir. Ele então cria um mundo fantasioso para fugir da realidade deprimente que vive. Ele começa a idealizar que sua vida é cercada de amizades leais, uma esposa que orgulha-se dele e que tem filhos que o respeitam tanto quanto seus amigos.  
No final tudo o que resta a Willy é o dinheiro do seguro de vida. As pessoas que se importavam com ele foram as que ele menos deu importância. Uma pessoa que viveu para agradar todos os que o desprezavam, menos os que o realmente amava-o. Ele então comete suicídio para que a família fique com o dinheiro, numa espécie de compensação por não ter conseguido ser tudo que ele idealizou.

... E nem seguro de vida eu tenho para deixar.



Those days I remembered about a play that I saw sometime ago, at São Paulo. The Death of the Salesman, from Arthur Miller. In this play the main character Milly Loman lives a social and familiar drama at the same time, pressing him until he suicides.
Willy is a rich pretender, that taken by how fast the people are getting rich, believes that also will have the same success, and that fame and money would get soon to him. But the market oscillations break his dreams, leading him to a bankrupt. So he creates a fantasy world to runaway from his sad reality. He starts to realize his life as surrounded by loyal friends, a wife which has proud of him and kids that respect him as much as his friends.
In the end, all that remains to him is the money of his life insurance. Those whose cared about him, were those who most ignored. A person who lived to pleasure those who despise him, forgetting those that really loved him. So he commit his suicide to that his family gets the insurance money, on a kind of compensation to never had got those things which he dreamt.

... And I... Neither a life insurance have, to can leave.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A Caixa de Pandora

Prometeus era um dos Titãs, uma raça que habitava a terra antes da criação do homem. A ele e seu irmão, Epimeteus encubiu a tarefa da criação do homem. Prometeus pegou algumas sementes dos céus e plantou-as na terra, derramando água sobre eles e fazendo o homem à imagem dos deuses.
Ele deu ao homem uma estatura ereta. Enquanto os outros animais voltavam sua face para o chão, o homem podia olhar os céus e as estrelas. Ao homem também havia sido concebido diversas qualidades como coragem, força, sagacidade, velocidade, a um foi dado asas, garras a um outro, uma concha protetora a um terceiro, e assim por diante. E acima de todas as qualidades, Minerva junto com Prometeus, roubaram o fogo do paraíso fazendo com que descesse uma chama sobre o homem, o provendo então da inteligência para fabricar armas para caça, instrumentos de agricultura para obter seu próprio sustento, habilidade de comércio, proteger-se do clima, etc.
Até então a mulher ainda não havia sido criada. Conta a lenda que Júpiter a criou, e enviou a Prometeus e seu irmão como castigo por terem roubado o fogo do paraíso, e como castigo ao homem por ter aceito a dádiva. O nome dessa mulher era Pandora. Feita no paraíso, teve em cada parte da sua criação, um dedo de cada deus, fazendo dela a própria perfeição. Vênus lhe deu a beleza. Mercúrio, a persuasão. Apolo, a música, etc...
Assim criada, foi enviada a terra e logo apresentada a Epimeteus, que aceitou-a de muito bom agrado, mesmo sendo advertido pelo seu irmão para que tivesse cuidado com os presentes de Júpiter. Epimeteus tinha em sua casa, uma caixa. Nessa caixa estavam guardadas todas as mazelas da humanidade. Pragas como lepra, reumatismo, tuberculose, câncer e muitas outras, inveja, ira, malícia, traição, todo tipo de maldade e doença estavam lá.
Pandora, uma noite, tomada por uma enorme curiosidade em saber o conteúdo da caixa, abriu-a para olhar dentro. Foi então que todas as pragas e doenças escaparam para o mundo. Pandora, desesperada com o que havia feito, retirou de si, seu bem mais sagrado para preencher a caixa: esperança.
Então, ainda nos dias de hoje, qualquer que seja o mal que nos rodeia, a esperança nunca nos abandona por completo. E enquanto tivermos ela, nenhuma doença ou desgraça poderá nos derrubar completamente.




Prometheus was one of the Titans. A race which lived in the earth before the creation of the man. To him and his brother, Epimethius, was gave the task to create the man. So Prometheus took some heaven seeds and did plant on the earth, pouring water above it and making the man equal image of the gods.
He gave the man the straight position, while other animals with their faces turned to the ground. So the man would look to the heavens and the stars. To the man also was gave a lot of skills like courage, strength, sagacity, speed, etc. Also was gave to one a pair of wings, to another a protection shell, another with claws, and so on. Instead of all those skills, Minerva together with Prometheus, stole the heaven's fire, doing with this that a flame felt above the man giving him intelligence to make guns to hunt, agriculture instruments to get his self sustain, commerce skills, protection skills, etc.
The woman hasn't been created until than. Tells the legend that Jupiter had created her, sending to Prometheus and his brother as a punishment to had stolen the heaven's fire, and as the man punishment to have had accepted the gift. Her name was Pandora. Made in heavens, had on her creation a finger of every god, turning her into the perfection itself. Venus gave her the beauty. Mercury the persuasion, Apollo, the music, etc.
So, with the woman created, she was sent to the earth and so presented to Epimethius, that had accepted her very pleasant, even with the advertisement of his brother to take care with the Jupiter gifts. Epimethius has into his house a box. Inside this box existed all the human evil. Plagues, diseases, envy, angry, hungry, treason, all sort of bad things was there.
Pandora, one night, took by a great curiosity to know the box contents, opened the box to look inside. That was when all plagues and curses went out to the world. Pandora, despaired about what had done, took from herself her most precious gift to put inside the box: the hope.
So, until nowadays, doesn't matter the evil that is around us, the hope is always with us. And while its there, no evil or sickness will destroy us completely.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

μεταμορφόω...

"In nova fert animus mutatas dicere formas corpora; di, coeptis (nam vos mutastis et illas) adspirate meis primaque ab origine mundi ad mea perpetuum deducite tempora carmen!"

Já que estamos falando de mitologia, lembrei de um livro que fomos apresentados em uma aula de um curso de Latim que havia feito. O livro Metamorfoses (Metamorphoseon) do poeta Romano Ovídeo. Metamorfoses constitui-se de 15 livros escritos em doze mil versos compostos em latim e que transcorrem poeticamente sobre a cosmologia e a história do mundo, confundido deliberadamente ficção e realidade, narrando a transfiguração dos homens e dos deuses mitológicos em animais, árvores, rios, pedras, representando o príncipio dos tempos, chegando à apoteose de Júlio César e ao próprio tempo do poeta, ou seja, o Século de Augusto (43 a.C. - 14 d.C.). Fazendo uma referência a própria Bíblia, pode-se dizer que Metamorfoses é o Velho Testamento da Mitologia greco-romana. Inclusive contendo curiosas coincidências e referências em alguns trechos, como o da criação do homem:

Ovídio
"Nasceu então o homem. Este, ou o fez de semente divina
aquele artífice do universo, a origem do mundo melhor;
ou então a tera recente, separada há pouco do alto éter,
talvez ainda contivesse sementes do céu, seu parente, terra
que o filho de Jápeto, misturando com água da chuva*,
moldou à imagem dos deuses que governam tudo."

*Nota do autor: Terra com a água da chuva forma o barro.

Gênesis 2, 5-7
"[5]Não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois ainda nenhuma erva do campo havia brotado; porque o Senhor Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo. [6]Mas uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo.* [7]Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente."

*Nota do autor: A neblina trazia a chuva que regava a terra, formando também o barro.

Igualmente, temos em Metamorfoses um dilúvio que renovará o mundo.

Metamorfoses também influenciou diversas obras como A Divina Comédia (Dante Aleghieri), onde o Inferno é uma encenação de vários personagens mitológicos de Ovídio, debatendo-se em punições. Em Sonho de uma Noite de Verão, Shakespeare pega emprestado o conceito de metamorfose pela transformação parcial de Bottom, uma clara referência a Apuleio. As fadas de Shakespeare, assim como os deuses de meaçadoras e poderosas, com um controle sobre a natureza e os homens, mesmo que sejam benéficas. E temos outra vez a história de Píramo e Tisbe, Livro IV, que mais tarde se tornará Romeu e Julieta.
Franz Kafka, já no século XX, publica o conto A Metamorfose (1912) utilizando a metáfora das pessoas que são colocadas à margem da sociedade. O personagem principal, Gregor Samsa, ao contrário do "blasfemador e arrogante" Erisícton de Ovídio, é um caixeiro-viajante que trabalha muito para sustentar os pais e sua irmã jovem. No Erisícton de Ovídio, o personagem tem uma filha, Mestra, que sempre
arranja comida para o pai, enquanto que Gregor de Kafka possui uma irmã que se digna a entregar-lhe alimento mesmo sentindo repulsa dele.

Essas referências, assim como diversas outras, tornam Metamorfoses uma vasta fonte de estudos nas mais diversas áreas da psicologia, psicanálise e filosofia.




"In nova fert animus mutatas dicere formas corpora; di, coeptis (nam vos mutastis et illas) adspirate meis primaque ab origine mundi ad mea perpetuum deducite tempora carmen!"

As we're talking about mythology, I remembered a book that we were presented at our Latin classes once. The Metamorphoses book (Metamorphoseon) from the Roman poet Ovid. Metamorphoses is a compilation of 15 books wrote into twelve thousands verses in Latin and poetically talks about cosmology and the world creation, mixing fiction and reality, telling about the transfiguration of the men and gods into animals, trees, rivers, stones, representing the beginning of the times, getting to its highest point at Julio Ceaser and the own poet time, August Century (43 BC - 14 AD). Referencing the Bible itself, I can say that Metamorphoses is the Old Testament from the Greece-Roman Mythology. Including making curious references to some parts, as the creation of the man:

Ovid:
"So the man was born. Thus, or made him from the divine seed the artifice of the universe; or soon will have, apart very recently from the high Ether, maybe still had heaven seeds, its parent, earth that is son of Japeto, mixing with the rain water*, made him as the image of the gods that everything governs."

*Note from author: The earth mixed with the water rain making the clay.

Genesis 2, 5-7
"[5]There where no camp plant on earth, because yet no camp herb had been sprout; because the Lord didn't make rain over the earth, and also didn't have the man to prepare the ground. [6]But a fog came from earth and watered all the ground surface.* [7]So, made the Great Lord from the dust to the man and blew on his nose the breath of the life, and the man became living soul."

*Note from author: The fog brought the rain that sprouted the earth, also forming the clay.

The same way we have at Metamorphoses a deluge that will bring a new world.

Metamorphoses also had influence many works as the Divine Comedy (Dante Aleghieri), where the Hell is a play of many mythological characters of Ovid, struggling into punishments. On Midsummer Night's Dream, Shakespeare takes borrowed the metamorphoses concept at the partial Bottom transforming, a clear reference to Apuleio. The pixies of Shakespeare, as the Ovid gods, are powerful and threatening, controlling the human and the nature, even this being benefit. And also we have the history of Pirame and Trisbe, Book IV, that later will become Romeo and Juliet.
Franz Kafka, on the XX Century, publishes the tale The Metamorphoses (1912) using the metaphor of people that are placed apart the society. The main character, Gregor Samsa, against the "blasphemer and arrogant" Erisicton of Ovid, is a traveler salesman that works to sustain his parents and younger sister. At Erisicton, the character also has a daughter, master, that always get food to her father, while Gregor, from Kafka, has a sister that bring his food, even feeling repulse for him.

Those references, as many others, make Metamorphoses a large study source into a lot of psychology, psychoanalysis and philosophy areas.